Minha primeira vez em um puteiro

Jurassic Park

Ainda eram 22h35, a rua estava vazia. Luzes piscavam na esquina. Quatro seguranças, um ficava  no estacionamento ao lado da casa. Demoramos para entrar, nosso contato não tinha chegado.
– Cara, vai dar merda, vamos sair fora!
– Relaxa! Nunca te meti em enrascada.
Paulo, o Paulinho, era uma mistura de “O Grande Mentecapto” de Fernando Sabino, com Augustinho Carrara da Grande Família. Mas isso não importa, mesmo que cheirasse a furada eu saia ileso sempre. Não sei como ele consegue, mas até aquele momento eu estava morrendo de medo.
– Velho, que lugar é esse?
– Relaxa cara! Confia. A gente precisa fechar esse documentário e aqui tem a imagem que a gente precisa.
– A gente baixa na net. Faz uma cena de mentirinha lá em casa…
– Porra nenhuma! Vive falando de falta de aventura, que precisar fazer algo diferente, desafiador…
– Pois é, mas quero um desafio sem nenhum travesti apontando uma pistola 45mm na minha direção!
– Aquilo é passado.
– Aquele passado foi ontem e eu ainda tô todo arrepiado, mas o que você falou pra ela ficar daquele jeito?
– O contato chegou. Fica quieto. Deixa comigo.
Um carro grande derrapou em nossa frente, esportivo, branco tocando um cantor brega da atualidade. Um carro cheio de luz de neon por dentro. Que mau gosto.
– Fala seu viado!
– Iae Cornão. Paulinho você é foda!
– Bora entrar lá. Hoje é aniversário dela! Whisky liberado.
Acompanhado do Paulinho, e do seu amigo “Cornão” entramos na casa, um lugar no meio do nada, mas muito bem frequentado. O único carro 1.0 e sem alarme era o meu e a gasolina estava na reserva.
Dentro da casa ao som de “breganejo”, as meninas da casa desfilavam em seus vestidos justos com cores chamativas. Entres sorrisos e drinques pelo salão fui apresentado a Rosana, a dona da casa, uma mulher de 1,80cm, pesando uns 80 quilos muito bem distribuídos, usava um vestido verde com brilhantes acompanhada de uma taça de champanhe, sempre.
– Você é amigo do Paulinho, É amigo meu também.
Rosana me beijou no rosto, me apresentou suas filhas e sua casa. Me ofereci para tirar algumas fotos da festa em troca de algumas cenas para um documentário, respeitando  quem não quisesse aparecer. Ela me levou ao seu quarto e pediu que eu tirasse uma foto ao lado de sua santa protetora: Nossa Senhora Aparecida.
Rosana topou fazer algumas cenas sem que mostrasse o rosto dos clientes e de suas filhas, uma vez que já foram expulsas de uma sociedade que se diz conservadora, mas que não entende as alternativas da vida, que as fazem estar ali, vendendo o corpo, deitando com pais de família, sendo psicólogas e ouvintes de um monte de sonhos despedaçados, em troca de uma vida monótona, sem desafios, com dívidas triviais, a base de emprego público, sem muitas expectativas.
Rosana nos serviu pessoalmente, sentou em nossa mesa e fez questão de brindar seu aniversário conosco e com sua família. Sim, sua família. Que a respeita e a ama mesmo sabendo que a escolha de Rosana não serve para meia dúzia de intelectuais do tédio.
Rosana me respeitou nas quatro horas em que permaneci em sua casa. Suas filhas e seus clientes foram educados.
– Sem droga e sem briga. Minha casa é pra se divertir.
Despedi-me de Rosana à meia noite. Paulinho já estava com meia garrafa de whisky vazia.
– Eu vou indo logo atrás de você.
– Fica tranquilo. Paulinho já é da casa. Disse Rosana.
– Eu nunca vim aqui Rosana!
– Deixa de ser bobo. Seu amigo tem que saber. Na última vez ele fez strip-teaser e tudo mais…
– Melhor ir…Não suportaria ver o Paulinho fazendo strip-teaser.


3 comentários sobre “Minha primeira vez em um puteiro

  1. Muito bom… Queria que continuasse, mas ver o Paulinho fazendo Strip não iria ser legal… Gostei muito!!!! O “Cornão” me causou um pouco de medo no início…. Estou rindo muito.

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