Letícia só queria ter filhos

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Letícia acordou cedo naquele dia, era feriado, não precisava sair da cama pra constatar que haveria nada pra fazer, não conseguiu voltar a dormir, ficou lembrando-se do sonho que havia tido minutos antes de acordar, a história das meias vermelhas, uma história que sua vo lhe contava em todo natal, era sobre uma menina que só andava com meias vermelhas até o joelho na esperança de sua mãe lhe reencontrar, a menina usava meias vermelhas no dia em que se perdeu  da mãe, acreditava que mesmo que em uma multidão se a mãe andasse olhando para o chão veria as meias e acharia a sua filha, toda véspera de natal a menina ia para a feira, o mercado e as ruas comerciais afim de alimentar um mínimo de esperança de sua mãe lhe achar em meio a tantas pessoas. Letícia se viu naquela história, mas no seu caso ela era a mãe.

Letícia sempre sonhou com o dia que iria ser mãe, brincava com as bonecas e lhes dava nomes, criou cachorros dentro de casa, cuidou do irmão mais novo com muito zelo, ouviu tudo que os pais haviam lhe orientado.

– Filho custa caro.

– Você ainda nem terminou os estudos.

– Um filho interrompe sua juventude.

– O mundo de hoje não é como antigamente.

Com tanta recomendação Letícia resolveu esperar, queria ter filhos, mas queria tudo do bom e do melhor para eles, queria poder oferecer um mundo justo e menos desigual, decidiu esperar.

O tempo não tem compaixão, 20 anos haviam se passado e Letícia ainda não tinha alguém para preparar o café ou alguém para ralhar sobre jogar bola na sala, Letícia estava só.

Se pudesse teria voltado no tempo e teria experimentado uma vida sem muitas vitórias porém teria um filho do qual pudesse amar incondicionalmente e exigir que não deixasse de usar meias vermelhas para que assim não se perdesse dela.

Cadê meu 13º ?

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Marcelo não disse “Olá! Em que posso servi-lo?” como de costume, também não deu um sorriso em troca. Logo ele que nunca se zanga, ele que mantém o bom humor dos funcionários pra cima hoje não queria ter  ido trabalhar.

– O que adianta você ficar assim ? Perguntou João Henrique de apenas 20 anos, trabalhava com Marcelo no restaurante há um ano e meio.

– Eu não gosto de quem não tem palavra.

– Disse que paga nessa sexta.

– Ele falou isso há duas sexta-feiras, isso é um direito nosso.

Mas todo mundo da birosca sabia que há alguns meses o velho tava mudado, e para a pior, torrando tudo que caia no caixa em bebida, jogatina e putaria. Tudo isso por que pegou a mulher (continua casado) dando pro churrasqueiro, O Agenor (continua empregado), este por vez disse que fez em forma de protesto as péssimas condições de trabalho, já pensou se a moda pega ?

Toda vez que entrava um cliente no Barriga Cheia Marcelo aproxima-se e dizia:

– Esse arroz é de ontem.

– Essa carne chegou verde aqui.

– Essa maionese foi feita sem lavar as mãos, inclusive nem vá ao banheiro, está interditado desde cedo, estou meio mal devido uma tapioca que comi hoje cedo.

– E o que tem de bom pra comer aqui? Perguntou uma mulher que não iria desistir de comer por que o preço era o melhor atrativo.

– De bom só tem o abacaxi. Isso ele não podia negar

– Tudo bem, quero dois e um suco de limão.

– Só tem um. Disse Marcelo

– Hum hum, vou chamar o gerente. Senhor! Tem como pedir dois abacaxis para mim?

– Claro, Marcelo pega o outro abacaxi na dispensa pra moça. Mandou o velho

– Só tem esse.

– Como só tem esse, ontem eu trouxe dois abacaxis pra cá, o que você fez com o outro abacaxi? Perguntou o velho

– Levei e dei como presente de casamento a minha esposa seu filho da puta.

Ninguém comeu abacaxi naquele dia.

 

Na próxima, pague o 13º em dia.

No coração da cidade

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São 18h, estou no coração da cidade, a rodoviária, o lugar que Niemeyer rabiscou como ponto de encontro do serviço público brasileiro. Posso até imaginar os ministros engraxando seus sapatos, deputados comprando 6 paçocas a 1 real e a presidenta se deliciando em um trio viçosa.
Mas ao contrário disso vejo pessoas formando filas, ambulantes vendendo de tudo, inclusive meia calça e por fim, os jovens gritando o jornal diário gratuito.
Um cheiro! era aí aonde eu queria chegar, um lugar de aromas e odores inigualáveis, é possível localizar-se de olhos fechados apenas com o churros e seu doce de leite , saber o ponto do buzao com o amendoim torrado e quentinho e descobrir se de fato somos brasilienses ao reconhecer o sabor do pastel de queijo do viçosa, ah o Viçosa.
A presidenta não sabe o que tá perdendo.