Eu te amo Robson

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– E aí gostou?

– Tô sem palavras, essa é a maior prova de amor do mundo.

– Eu te amo Robson!

– Quer casar comigo?

Era o mínimo que Robson podia ter feito após Fernanda, sua namorada há quatro anos, ter tatuado em seu braço “Eu te amo Robson” e por fim dois corações fazendo um símbolo que lembrava o infinito.

Se conheceram no fim da adolescência, resolveram cursar a mesma faculdade mas não o mesmo curso, Ela fazia Direito e ele Ciência da Computação, ficavam juntos no intervalo, estudavam pra concurso juntos, um ensinava o outro apesar de ninguém traduzir o que falam os advogados e muitos menos entender os códigos na tela do computador, eram felizes por serem de opiniões diferentes, ela acreditava no perdão e segunda chance e ele defendia a volta dos jogos de 32 bits, clássicos de sua infância com Blade Runner passando em sua tv Philips.

Mas o que nós temos que saber é que para ela após quatro anos de namoro dedicado exclusivamente ao lado do namorado, não haveria outra forma de provar a paixão que ainda sentia pelo primeiro e único amor de sua vida, depois de pensar muito, tomou coragem e sem falar com ninguém resolveu tatuar a declaração no braço.

O dia da surpresa foi no dia do aniversário de namoro,  Robson cumpriu o protocolo, comprou flores, chocolates e um bicho de pelúcia, todo ano dava certo.

– Eu aceito, seremos o casal mais feliz do mundo. Cadê a aliança?

Pois é , cadê a porra da aliança Robson?

– Aí meu deus, eu deixei na joalheria escrevendo nossos nomes.

O malandro se saiu  bem, o que precisava era ganhar tempo e dinheiro, havia acabado de se formar e estava desempregado,  o jeito seria ir enrolando até conseguir a grana para comprar as alianças. Fernanda não se importava, o pedido já havia sido feito, iriam se casar e isso bastava.

Restando dois anos ainda para Fernanda tornar-se uma bacharel em direito, pode aos poucos freqüentar o intervalo com os amigos da turma, voltava de carona com as amigas falando besteiras inimagináveis. Fernanda pela primeira vez estava se sentindo uma universitária, não precisava ficar o tempo inteiro preocupada em dar atenção a Robson, namoro só no final de semana, tempo que ele dedicava aos seus jogos e seus filmes ou seja, a sua programação. Falar de casamento? Deixa pra quando Fernanda se formar e estiver trabalhando, mesmo que Robson não estivesse fazendo nada.

– Vai ter um churrasco com o pessoal da turma, vamos?

– Nada, fim de semana preciso descansar.

– De quê? Voce não está trabalhando?

– Tô procurando! ontem passei o dia entregando currículo.

– Nós nunca saímos para minhas coisas, só ficamos em casa fazendo nada.

Era o alarme interno do relacionamento tocando, quem não presta atenção, perde tudo por muito pouco.

– Nós ficamos juntos, vendo filme e jogando.

– Você! Eu não jogo e não gosto desses filmes.

– Olha Fê, se você quiser, vai neste churras, eu vou ficar aqui, qualquer coisa você me liga.

Desta vez a chantagem emocional não funcionou, ela foi e fingiu não se importar. A festa foi de arromba, Fernanda prometeu ficar vinte minutos e ir embora. Nos primeiros cinco tomou pinga e quebrou o relógio, quem quer estar junto precisa tá perto. Bebeu, dançou, riu horrores, comeu, vomitou, bebeu denovo e por fim ficou com o dono da festa.

Na joalheria o senhor pergunta.

– É pra escrever o que?

– Escreve Robson eu te amo.

Perdeu a namorada, ainda não trabalha mas sonha em saber o que foi feito daquela tatuagem.

Eu lhe respondo, o dono da festa também se chamava Robson. Fernanda como toda mulher permitiu-se apaixonar novamente mas não seria louca de fazer outra tatuagem , aquela foi cara e doeu pra caralho.

Continuou amando um Robson.

Retrato do andarilho

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José Edvaldo Sousa Silva.
Um desconhecido, nunca foi preparar quitutes na Ana Maria, muito menos na banheira do Gugu se agarrar com as gostosas, decidiu que sua vida seria tornar se um andarilho profissional.

De São Luís do Maranhão já conheceu novecentas cidades, foi até o chuí, na volta parou em Brasília pra bater um papo com Dilma.

Conheci este figura na exposição do nosso admirável fotógrafo Sebastião Salgado, em poucos minutos de conversa ele me pediu uma foto ao lado dos leões, o animal mais bonito do mundo segundo ele.

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Meus alunos entraram na onda e também registraram o momento.

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Eu não poderia deixar de tirar uma foto com ele.

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Por fim pedi para fazer um retrato dele

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Ele me pediu que colocasse as fotos na internet para que os amigos dele podessem ver, aqui está.
Neste dia paguei um almoço a ele, nada mais que justo, tirei fotos ótimas de alguém real com muitas histórias, esta foi a minha cruzando a dele.

Quero conhecer mais pessoas assim.

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A bíblia do Sacana

 

THIAGO MAROCA

 

Depois de ter dado calote na família inteira, arrumar brigar no bar da Mazé e quase morrer por ter se metido com mulher de PM, Sandrinho viu a solução de seus problemas com a simples idéia:

– Vou escrever um livro

– Sobre o que ?

– Minha vida, tenho muita coisa pra contar.

– Claro, vai falar sobre o cano que você deu em toda família?

– Não, é íntimo demais.

– Das porradas que tu leva no bar da Mazé todo final de semana?

– A biografia vai falar das partes boas e eu nunca começo uma briga, só não aceito covardia.

– Covardia é o que fazem contigo, vive remendado. Tu podia falar de uma experiência recente.

– Qual?

– Aquela que tu saiu voando pelo telhado das casas quando o marido da Carminha chegou, o PM.

– Tá maluco Cícero, é uma biografia e não um testamento.

– Até por que você não tem porra nenhuma mesmo num é?

– Quanto baixo astral, você vai ver, na verdade vou divulgar em capítulos. Tudo em um blog meu: ” Tempo de vencer”

– Num tem um pastor com esse site?

– Eu compro dele.

Naquela hora Cícero teve um insight, iria reescrever a biografia de Sandrinho em um formato original, seria “A bíblia do Sacana” dividiu em três capítulos: Traição, dívidas e confusão. De fato estas três palavras já definiam a vida de Sandrinho.

 


 

A bíblia do Sacana

Capítulo 1, Versículo 69

“Se tem coisa melhor do que o amor, ainda não foi inventado”

É simples, quem não ama padece, amor bom não tem fronteira e nem respeito, muito menos limite, ame tudo que não lhe pertence mas ame-se primeiramente.

Capítulo 2, versículo 71

“Num ajudo por que não tenho, se você tem então me ajuda”

O problema é a finalidade da ajuda, quando é pra comer, pagar um aluguel, tudo bem. Mas baixaria e cachaça ninguém aprova, se for amigo dê, se um dia receber foi lucro se não, compense com uma boa conversa na mesa de um bar.

Capítulo 3, versículo 5547

apenas a nível de informação, este é o numero de planos infalíveis que o cebolinha criou para pegar o coelho da Mônica.

“Com dois é briga, com três é armação, com mais é confusão”

Entenda comigo: se alguém questiona um erro na conta do bar, uma ficha de sinuca que a mesa engoliu ou mexeu com mulher de um desconhecido é sinal de que você deve se meter e tomar partido e assim tomar umas porradas também. Entendeu?

 


 

Depois de alguns meses, os capítulos da bíblia do Sacana bombaram na web, Cicero não quis fama. Sandrinho não deixou de comentar

– Puta sacada a desse cara!

– Nada, só histórias.

– Fato, eu nunca vi ninguém assim.

– Nem eu

– Cicero, preciso de um ator, não quer participar do meu filme não?

Melhor deixar essa para outro dia, é muita encrenca para um texto só.