Meu vício é….

Thiago Maroca

Eu preciso confessar, sou um viciado, já tentei mudar hábitos para tentar parar, uma vez fiquei sem e foi uma experiência horrível, nunca mais tentei. Sou viciado em ouvir rádio.

Mas não estou falando dessas rádios populares onde tenho a impressão que tocam as mesmas músicas no intervalo de duas horas, música de pouca qualidade geralmente.

Eu gosto de coisa original, o que as vezes não significa qualidade, sou um viciado em rádio pirata.

A rádio pirata tem muitos fatores que prejudicam os profissionais da área, interfere na freqüência, não pagam direitos autorais e trabalham com dez por cento do orçamento de uma rádio legalizada, isso quando tem orçamento. Mas não quero falar sobre legalidade, quero falar da sua originalidade.

A rádio pirata toca artista local, faz fofoca do dentista do bairro, tem o resultado do jogo bicho e divulga os eventos que servem para comunidade, como: bazar da igreja, campeonato de golzinho e a pamonha da dona Jacira.

Toda rádio pirata que deseja ser importante em sua comunidade precisa ter um quadro de avisos para divulgar as atividades da vizinhança e promoções do comércio; um jornal comunitário para todo mundo ficar sabendo que temos mais um corno jogando dominó no bar do seu Juca; a hora do balanço para dar ânimo na hora de limpar a casa e o Love song’s que é o programa de paquera, marcar encontro e se declarar. No Love Song’s pode de tudo, até pedir perdão. É possível ouvir todo tipo de história, umas para chorar e lembrar que o amor é acima de tudo o que nos move. De vez em quando lembrarmos que é bom rir, mesmo quando não permitido. Nessa hora o locutor deixa aberto o telefone para quem quiser deixar um recado, eis que começa:

– Aqui é o Jucelino, quero conhecer alguém que seja verdadeiro, que goste de crianças e que seja mulher de verdade, não gosto de frescura.

– Meu nome é Rosilândia, desejo alguém diferente, quiser falar comigo basta por crédito no meu celular, juro que ligo de volta.

– Roberval aqui da marcenaria, não tenho vício, quero conhecer qualquer tipo de mulher, desde que goste de mim e do meu cigarro. Qualquer coisa eu fico no bar do Juca todo dia até a meia noite.

Há quase dez anos eu escuto rádio pirata, as legalizadas perderam a identidade, o brilho, esqueceram o valor da música regional. As vinhetas são todas com voz de robô, só tocam musicas internacionais, até locutor está em falta.

Toda vez que entro no carro perco cinco minutos sintonizando uma rádio, quando escuto uma saudação, um olá, fica ligado. Não mudo mais, vou ouvindo até perder o sinal, aí procuro outra. Diga-me, como pode alguém não viciar ?

 

obs: Estou fumando narguilê na foto. Sou contra a legalização da maconha.

Telefone pra que?

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Quando saí de casa senti uma sensação de liberdade, não tinha microondas, não havia máquina de lavar mas podia comer pizza todos os dias, até porque eu sou péssimo em cozinha.

Com o tempo fui melhorando de emprego, em menos de dez anos eu já tinha um carro usado, um microondas e uma estante para meus livros. Porém, melhor que tudo isso era a liberdade e ela se chamava Internet ADSL 1 mega de velocidade. Já faz algum tempo, parece que foi hoje.

O serviço de internet sempre vinha com uma venda casada de telefonia fixa, eu nem me importei em saber o número do telefone. Não ia usar mesmo, exceto quando o celular estivesse descarregado em um domingo a noite chuvoso para pedir uma pizza. Este era um detalhe que devia ter ficado atento. O telefone nunca parou de tocar.

– Alô!

– André?

– Não sou o João, foi engano.

– Nem pra mentir você presta!

– Não estou mentindo, passar bem.

– Vá para o inferno André!

– Depois de você.

Desliguei.

Todo sábado, começava uma chuva de ligações:

– Completou 30 minutos, a minha segunda pizza será de banana.

– Guarde um pedaço para mim.

– Engraçadinho, o regulamento da promoção é simples, se atrasar você leva uma segunda pizza de graça.

– E onde é?

– Palhaço, não atrase muito,se não é tudo de graça, regra dois lembra?

– Claro.

Desligou na minha cara, mas era espirituosa. Por fim a melhor de todas as ligações.

– Senhor Luiz Aurelio?

– Sim.

– Aqui é a Keyce da WW Cobranças, o senhor tem um débito de mil reais conosco, temos um desconto especial.

– Claro tenho toda disponibilidade no sábado, e você vai fazer o que depois do trabalho?

– Então, se o senhor aceitar estaremos enviando o boleto para sua casa no valor de 873,34. Posso confirmar?

– Somente se você me disser que horas sai do trabalho.

– Isso é uma confirmação?

– Depende de você.

– As 20h15, Trabalho na Alfred Nasser com a João Miguel no centro, isso não é um sim.

– Então confirmo pessoalmente.

 

E Ainda dizem que tudo que você precisa está na internet.