Dieta off line (ganhe tempo, pergunte-me como)

Segunda feira, dia de começar dieta e iniciar novos projetos, para Jhon Jhon seria a maior audácia desde a criação da internet, ficar sem comunicação on line.
–  F#D*U!!!! Pensou e disse, e disse alto.
Desde a criação do bate papo no BOL, nunca ficou mais de uma semana sem conexão. Fez uma viagem nos últimos dez anos e analisou sua vida on line.
Começou visitando uma lan house que havia na feira permanente da cidade, comprou um disquete para copiar as imagens com ilusão de ótica, tentava imaginar como alguém era capaz de criar aquilo, mas em seis meses o mundo caiu em desgraça quando ele conheceu as redes de fotos: Fotolog, Gigafoto, Flogao e outros milhares.
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Além de bater papo mandava o link do fotolog e comentava no da paquera, eram fotos horrorosas, sem foco, sem luz e sem pixels.
Sua vida social entrou em colapso e nunca mais foi a mesma quando criou a conta no orkut.Tudo era orkut. Comunidades,scrapbook,fotos, amigos em comum.
Uma possibilidade infinita de conhecer pessoas, de compartilhar idéias malucas e descobrir que o cara da Elma chips tem catapora.
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A febre do Orkut não parava, já bastava ter mais comunidades do que amigos, eles criaram a colheita feliz e isso gerou uma onda vandalismo pois, era permitido roubar da fazenda alheia.
O twitter deu uma elitizada na web, mas foi por pouco tempo, a galera do Orkut descobriu que era moda resumir a vida em 140 caracteres. Jhon Jhon Tentou encabeçar um perfil no Myspace que já tinha ido pro espaço há tempos (Trocadilho horrível), Criou um perfil no facebook e em 5 anos não sabia mais o que era portal de notícia, calendário de eventos, grupos de interesse, Msn, tudo tinha perdido o sentido, o Facebook é tudo. #SQN
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O mundo agora era mobile. Instagram, Vine, Snapchat e o viciante Whatsapp. Tudo feito para você ficar preso na tela de um celular, Jhon Jhon aceitou o desafio da dieta off line, usaria o bom e velho diálogo para sobreviver.
No começo teve tremedeira, suou frio, perguntava as horas só para as pessoas mostrarem seus smartphones, olhava a rua e imaginava qual aplicativo poderia lhe ajudar a todo instante. O waze sobre o transito, o Google + para pesquisar, uma olhadela rápida no Facebook pra não perder o parabéns do dia.
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Aos poucos foi se acostumando e achando engraçado como as pessoas perdiam momentos banais por não prestarem atenção na simplicidade da vida.
Foi a pé até o mercado, ajudou uma senhora com as sacolas, deu moedas ao lavador de carros, jogou pão aos cachorros da rua, sentiu o cheiro de madeira sendo serrada, ouviu um zilhão de freadas bruscas,  passou a mão no muro chapiscado da igreja, notou os lábios ressecarem.
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A dieta lhe permitiu isso, ativar os sentidos novamente.  Você já tentou fazer uma dieta assim?

 

Amor geográfico

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Se a história de Romeu e Julieta fosse adaptada para a atual realidade do Distrito Federal, a discussão sobre a origem familiar seria o de menos tendo em vista a imobilidade urbana com a greve dos servidores, que apenas servem à eles mesmos.

Façamos o seguinte, Romeu conheceu Julieta pelo Tinder , resolveram se encontrar no parque da cidade, num domingo a tarde.

Romeu, 18 anos, procurando emprego, pagodeiro, morador de sobradinho 2, pegou ônibus por 4 reais até a rodoviária e um circular de 3 até a entrada do parque.

Julieta, 19 anos, estudante de nutrição e desempregada, bicho grilo, moradora de Vicente Pires, o pai a deixou na Eptg, pegou ônibus para rodoviária por 4 reais e um circular até a entrada do parque por 3. No ônibus viu um garoto esquisito usando óculos branco, bermuda florida, regata amarela, ouvindo pagode sem fone de ouvido mas com a cara de feliz.
Romeu olhou a menina de cima a baixo, cabelo solto, brincos de capim dourado, blusa com estampa do Bob e uma saia rodada. Ambos de havaianas.

No parque, uma troca rápida de mensagens, um pouco de voz pra matar a saudade e pronto.

– Eu te vi no ônibus, como não notei? sabia que tinha algo especial.
– Eu também te vi (mais seca que a represa do Tietê)

Conversaram, comeram pipoca, açaí, água de côco, picolé, chocolate, algodão doce, água, biscoito e um kit kat. 
Se encostaram, passaram braço, se abraçaram, falaram besteiras, repararam em seus rostos, ele tinha um olho torto, ela tinha olheiras mas, a alegria era recíproca. Se beijaram.

Durante três meses a paquera foi maravilhosa, no dia de conhecer a casa dela, depois de pegar dois ônibus de 4 reais e ainda andar dois kilometros até a entrada do condomínio, chegou suado, sem fôlego. 
– Você não mora, você se esconde.
– E você que mora ao lado de uma fábrica de cimento, poluindo o ar e até os ouvidos por que ouvir pagode todo dia é de infartar.

Foi a gota dágua, o almoço nem tinha servido e já estavam indigestos. Não houve morte neste conto moderno, houve corte de gastos, com o fim da paquera cada um economizou 16 reais  por semana. Eta crise lascada!