Ele só queria estar só.
Caminhava tarde da noite entre as árvores para que a luz não o encontrasse, não queria ouvir risadas de namoricos no escuro. Tratou de colocar fones de ouvido. Andava devagar para que não acabasse a sensação de estar arrasado, mesmo que a dor não lhe pertencesse.
Começou no final da tarde, olhou no portal de notícias um massacre, uma barbárie contra uma família. 80 tiros foram disparados em direção a uma família de periferia, as balas partiram do exército brasileiro desse país despedaçado em migalhas sobre quem está certo ou errado. Quando morre um inocente, ninguém está certo, o seu silêncio consente com a morte de mais um favelado invisível. O pior silêncio é o do Estado, constituído e democrático ocupado por pessoas que não conseguem fazer uma única autocrítica. Tá foda ser brasileiro assim.
Quando você está indiferente a tudo que lhe cerca, agrade ou não, você concorda com os erros da mão do estado. Quem matou não foram os soldados, foi a instituição que não seguiu a sua finalidade e seus princípios, sejam quais forem, acredito que não seja disparar 80 tiros de advertência.
Reflita: Silêncio é omissão ou consentimento?
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Arte por Duke, extraído do jornal GGN.