Acordei as nove horas da manhã, tomei café lentamente, revisei as tarefas do dia, fui no mercado comprar cuscuz, aproveitei e comprei leite, farinha, arroz tava na promoção, feijão pela hora de morte e o limão a R$1,99 o kilo, comprei logo três kilos, pra fazer drinks e mais drinks. Em casa já atrasado para pegar o ônibus e ir trabalhar, resisti e não fui com o carro, cheguei atrasado 20 minutos mas ninguém notou, tratei de contar uma piada tosca na copa enquanto pegava o café, cumprimentei os presentes, gritei pela presença dos ausentes e no meu setor uma reunião, um furdunço sobre um equipamento danificado. Procura culpado, aponta dedo, tira dedo, ameaça abandonar o setor, indaga sobre quem poderia ter sido, encontram novos velhos equipamentos com defeitos. Ameaça chover!
A tarde segue maravilhosa em um estúdio pegando fogo, uma entrevista sem fim. No fim do expediente, tempo nublado mas sem cheiro de terra molhada, recuso a carona até a rodoviária pois estou decidido a ir com a bike do aplicativo de mobilidade pela cidade, sinto o vento no rosto, passo pelos noiados, pelas árvores, pelos carros, atravesso pista sem calçada, vou pela terra, pela grama, pela calçada, pelo buraco da pista até que chego na rodoviária e me despeço da magrela que me deu o vento nos braços e o suor no rosto. Estação sem vaga para devolver a bike. A chuva chega!
A cidade some através do temporal, o tempo de uso de bike ultrapassa e terei que pagar uma multa, a chuva faz com que eu faça amizade com outros usuários do aplicativo, xingamos o sistema, a chuva, e as bikes. A vida une as pessoas de alguma forma e não sabemos. A chuva passa!
Volto um kilometro e devolvo a bike, pego meu ônibus, leio um pouco das crônicas do Walcyr Carrasco, que aliás me inspira a escrever esta. Chego em casa e descubro que um grande jornalista morreu, Ricardo Boechat. De fato esse não foi um dia qualquer.
Pela janela, ameaça chover novamente.