Maldito cheiro de café (por amor)

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Ainda estava deitado, já passava das dez, se soubesse o que iria acontecer nas próximas horas talvez não tivesse acordado e ir ver quem chamava na porta.

– Oh de casa!

Eu deveria saber que quando uma mulher chama na porta as coisas não tendem a serem boas, podem ser testemunhas de jeová, vendedoras de avon ou uma nova vizinha.

– Oh de casa!

Se eu ficar aqui quieto ela desiste e vai embora, assim eu continuo deitado, com meu universo intacto, nenhuma regra será alterada, como foi com a Monica. Lembro do dia em que sem querer eu deixei o chinelo no muro cair na vizinha. A  casa ao lado tem um campo de energia que repele os inquilinos em pouco meses, educadamente fui  pedir meu chinelo de volta e só me lembro que  acordei com um cheiro de café, na contraluz uma uma camisa folgada só de calcinha fumava um hollywood, o cheiro da nicotina e sua fumaça me fizeram esquecer a asma, vi que poderia começar uma vida e que isso seria muito bom.

Monica, toda Monica tende a ser neurótica, acredite! Me serviu um café preto com torradas penduradas na ponta de uma faca apontada pra mim.

– Eu não vou ser mais uma.

– Do que você ta falando¿

– Onde vai colocar minha foto¿ no muro¿

– hãm¿

– Seu filho da puta!

Arremessou o quadro de minha mãe quando jovem e levou a única camisa do legião que me restou depois que a Débora levou a mobília, os cachorros mas deixou o café pronto.

 

– Oh de casa!

Ela não desistiu, quem será que não percebe que não tem ninguém em casa e vai embora¿

– Oh de casa!

Saco! Fumaça! Aí meu Deus, é a Monica!

-Monica¿

– Helena, mas pode chamar de Lena, somos vizinhos, to mudando hoje.

Ficou quente

– Que fumaça é essa¿

– Voce é surdo?

– Que troço é esse queimando em cima do meu carro?

– Isso é…. quer dizer… era pra ser um churrasco.

– Sim mas o que eu, meu carro temos a ver com seu churrasco? Isso é carne?

– Lingüiça, tá servido? Se bem que essa daí passou do ponto.

– Do ponto e do muro, deixa eu jogar uma água.

E aquilo não era linguiça, era uma toalha.

– Isso é uma toalha?

– Será?

– É uma toalha!

– Vem cá, voce nao viu que eu nao atendi na primeira vez, porque nao apagou isso assim que viu¿

– Isso é invasão de domicílio.

– Mas se eu nao estivesse em casa?

– Deixando a luz de fora acesa?

– Aprendi isso com minha mãe.

-Eu aprendi que não devemos deixar a visita esperando.

-Mas você não é visita você é minha vizinha e deixou algo pegando fogo em cima do meu carro

– Prazer eu sou Helena, mas pode me chamar de Lena.

– Você já disse isso.

E disse mais umas trinta vezes naquele dia depois de duas garrafas de vinho, uma partida de FIFA soccer e um resto de fandangos como aperitivo.

Ela é louca e linda, ainda não levantei, tomara que não saiba fazer café.

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