As surras da mamãe

Ano de copa no país, a internet acessível por todos, ficou fácil saber o que acontece nas outras regiões do país porém, o  mais legal de tudo é saber que não fui o único que apanhei de forma criativa durante a infância.

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Mamãe não tinha forças para correr atrás de mim nos meus 12 anos, o que não a impediu de me dar uma pisa, ela tinha desenvolvido a técnica do arremesso.
A primeira ocorreu quando ela resolveu cuidar do espaço na frente de casa criando um jardim, dentre todas as plantas, naquela primavera somente a roseira se antecipou, Mamãe podou, regou e por fim estava a limpar com o rastelo as folhas secas. No momento em que mamãe foi buscar um saco plástico para juntar as folhas me encontrou fazendo bem me quer, mal me quer em sua única rosa que havia florescido naquele início de primavera. Não haveria escapatória sem correr, fiz o que pude e saí em direção contrária a minha mãe, senti um frio na espinha, não conseguia gritar,vi um filme passando pela minha vida, todas as vezes que eu tinha provocado minha irmã , das vezes em que eu roubara manga na dona Francisca (mas essa é outra história) aquela corrida pareceu a maratona de são silvestre, corri, corri, corri… como nunca havia corrido em toda minha vida até aquele momento.

Minha mãe sabia que não iria me alcançar e pela primeira vez, iria realizar seu sonho de mãe em me corrigir, pegou o rastelo e o arremessou em minha direção, me derrubou, cai capotando comendo grama e areia, não conseguia levantar, fui abatido, ali começou a saga da mamãe arremessando coisas.

Certa vez estávamos eu, Maninha e o Dudu, um primo de outra cidade, lanchando  na cozinha uma pamonha com os milhos que o papai comprara. Só existe um problema quando você oferece alguma coisa com milho para um goiano, ele devora. Com pamonha não poderia ser diferente, eu amo pamonha! Salve a pamonha, oh Deus pamonha. Comi a minha todinha num minuto. Dudu tinha ido ao banheiro, deu mole, comi a dele também.

– Era a pamonha dele, seu idiota.

– Se você não contar, ele não vai saber.

– Até parece.

Me descontrolei, quando vi já estava balançando a cabeça da minha irmã pelos cabelos, havia um pouco de prazer naquilo.

– Socorroooooo!

Fiquei cego pelo poder em minhas mãos e não vi minha mãe se aproximando,  de forma sagaz ela chegou ao lado do fogão, quando eu a percebi, tentei inutilmente livrar-me dos cabelos da minha irmã, mamãe já havia pegado a panela de pressão  e arremessado em minha direção, ao arremessar a panela de pressão ouvi um “pokebola vai!” Fui a lona mais uma vez, com hematomas, quase um bubassauro.

Pra finalizar, após tantas batalhas perdidas, fui perdendo o gosto por atentar, estava entrando na fase de querer ser adulto, participando da conversa e sempre ouvindo:

– Isso é conversa de adulto! Some daqui.

Apesar dos alertas, uma vez não resisti e permaneci na roda de senhoras que junto com minha mãe, discutiam sobre as sobremesas do natal, todas sentadas na nossa sala, conversando quem iria preparar o que para a ceia de natal.

– Eu faço um pavê que é uma delícia.

– Eu posso fazer um manjar.

– Eu aprendi torta holandesa.

– Eu faço a tradicional rabanada. Disse mamãe

– Sempre com o mais fácil.

Não me contive, soltei sem querer, todas as mulheres olharam com reprovação para mim, não iria esperar minha mãe solicitar minha retirada, levantei e sai como um lord inglês.

– Com licença.

Ao virar percebi mamãe se movimentar em direção ao chinelo, era a hora de correr mas já era tarde, fui atingido por uma rajada de 16 chinelos por segundo em minhas costas, o que resultou em roxos e muitas dores.

Depois de todos esses anos, creio que minha mãe consultou o livro sobre arremesso de peso ao invés de educação de peso.
A conclusão que tiro dessas histórias é que fui educado por um bomerangue.
Mas agradeço pois, nunca morri nenhuma vez, mamãe me mataria.

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