Cazamiga

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Eustáquio, Gervásio e Zé Carlos estavam sentados, jogando um caloroso pif paf apostando a última dose de Rita Baiana, uma pinga que o Batista trazia toda vez que voltava do Piauí.
Sem mais nem menos, Luizinho já bêbado, cai por cima da mesa desfazendo a jogada final de Gervásio.

– Porra Luizinho! Eu ia bater.
– Tudo viado! Eu sempre soube.
– Precisa gritar no ouvido da gente? -Disse Eustáquio
– O seu, puxou esse seu jeito de baitola,”Estáquio”.
– Tá falando o que? -Perguntou Zé.
– O seu filho Zé, é o líder, agora se chama Ágata.
– Como é Luizinho? -Perguntou Zé furioso.

Seu Batista, mesmo sem entender direito, não queria confusão no seu boteco, segurando Luizinho pela gola, o arremessou rua a fora.

– Rassimbora! Esculhambação é essa? Entra aqui pra causar desavença.
– Batista, tá o filho dos três lá na praça, dançando e cantando.
– Os jovens faz isso, num tem nada de errado -Concluiu Zé Carlos.
– Vestido de mulher…

A merda foi jogada no ventilador, o bar inteiro estava de pé, os três amigos olharam-se e correram em direção a praça, deixando Rita Baiana e o baralho para trás.
Na praça central, no coreto, lugar marcado pelas apresentações de poetas, músicos e até discursos políticos, havia se transformado em um palco com três estrelas, Tito, André e Ricardinho que a partir daquele momento seriam Ágata, Laurice e Thieska.
A revelação apesar de esperada, foi o evento mais comentado do ano, só perdia para a história do psicólogo corno que entrou em depressão e morreu de fome.
O show começou de repente, sem apresentação ou introdução. Um cover da Beyonce aqui, uma performance da Britney ali e por fim uma canção da Madona, porque diva é sempre diva.

Gervásio, Eustáquio e Zé Carlos olharam, não queriam acreditar no que seus olhos viam, choraram, se abraçaram, notaram o quanto era estranha aquela sensação, mas no fundo os três sempre sabiam, só fingiram não acreditarem no espetáculo. Cada um revela sua sexualidade como quiser, para os filhos daqueles três machões, metidos a conservadores. Há quem imaginou que fossem fãs. Surra não resolveria, falaram de uma cura no exterior mas idiotice tinha prazo. Optaram pelo mais sensato, voltaram pro boteco do Batista.

– Batista! Sobrou aquela dose de Rita Baiana?
– Tenho uma reserva particular, essa ocasião merece.

Serviram-se e beberam de uma vez, todo mundo calado, apenas se olhando até que começaram a rir.

– Pelo amor de Deus, quanto tempo eu fingi que era mentira -Gervásio começava a se abrir.

– Esse negócio dá dinheiro, já ouvi cada história. – Zé Carlos ia melhorando o clima deixando amolecido aqueles corações que fingiam ser durões.

-Eu até gostei das músicas! -Eustáquio ria ao falar do talento do filho.

Zé Carlos não se segurou

– Batista, onde tá teu filho?

Alguém tinha que produzir o espetáculo.

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