Kim, o gatão da baixada.

kim gatao

A dona Alice tinha seis filhos: João, Antonio, Elias, Marta, Adriana, Alberto e Joaquim. É do caçula, o Quinzinho que nós vamos falar. A vida na roça era boa, mas um dia as coisas ficaram ruins e todos tiveram que sair do interior pra sobreviver na metrópole. Família negra e pobre só havia um lugar para morar: A Baixada do Glicério.

Pra quem não conhece a cidade basta saber que a baixada era um aglomerado a Liberdade, o bairro japa de São Paulo, onde algumas famílias o mantinham em ordem.

– Me vê um cigarro e uma cerveja gelada.

– Bar de japonês não entra Joaquim.

– E quem bebe sem deixar fiado? Eu sou o único que paga em dia nessa merda.

– Joaquim não valer nada, aqui não é lugar . Bar de japonês, só japonês, Joaquim ficar na baixada.

– Porra Sato! Voce é da Yakuza? Só vim jogar um papo fora, falando em fora quem é aquela rosa de Hiroshima?

– Cadeia! filha de Fujitama, não é para você.

– E tu sabe o que é bom pra mim?

– Cadeia!

Naquela noite o Quinzinho da Dona Alice tinha levado uma visita para o jantar, a pele clara de olhos puxados e com os cabelos pretos e lisos não agradou muito os olhares desconfiados dos residentes da baixada, mas se era o Joaquim que estava levando, havia respeito, todos sabiam da lábia que tinha o negão.

– Mãe, essa é a Kaori, mas o resto do nome eu não consigo dizer. Uma amiga que eu trouxe pra conhecer o ensopado mais delicioso de toda a baixada.

– Joaquim, você é louco? Essa mulher é da liberdade, tu vai arrumar encrenca, tu já viu japonês andar com gente preta? Marta estava nervosa.

– Deixa minha filha, o Quinzinho sabe se virar, anda vem jantar enquanto tá quente.

E jantaram, Kaori manteve um diálogo monossilábico com a família enorme de Joaquim, Antonio e Alberto moravam em uma obra em Diadema, mas os irmãos Elias e João não paravam de fazer perguntas e as irmãs sempre que podiam alfinetavam o corpo estranho.

– O que significa seu nome? perguntou Adriana curiosa.

– Perfumada como uma flor.

Kaori saiu com um turbilhão de sensações daquela humilde casa, pensou em todos os contrastes culturais,concluiu que aqueles moradores da baixada é que eram os verdadeiros brasileiros, gente que pega três conduções, mulher criando os filhos sozinhos, muambeiros fugindo do rapa e uma onda de sons de tudo quanto é tipo:

– Clóvis, volta aqui que eu vou dar na tua cara e naquela piranha também.

– Joselita, deixa eu entrar, teu homem tá sofrendo aqui fora.

– Maxsuel! Cade você moleque do inferno.

– Neusa tá sabendo do rolo que teve no bar do Juca.

Kaori, contou para as amigas sobre o um rapaz que havia conhecido na liberdade, um cara diferente de tudo que já havia visto. A mulherada do bairro oriental só sabiam seu nome:

– Kim.

– Deve ser coreano.

E assim o nosso Quinzinho virou Kim, mais conhecido como gatão, e na baixada ninguém podia contestar a fama, graças ao nosso pretinho poderoso a baixada era conhecida até no bexiga.

Num desses jantar de família com a Kaori, eis que para dois carros pretos com um bando de olho puxado falando alto:

– Kuro?

Na baixada mal se falava português quem diria japonês, as para Kaori o idioma e o tom da voz era inconfundível, era seu pai. Levantou da mesa e foi para fora, na rua toda baixada ouvia o diálogo que misturava nissin miojo com fujioka.

– Kaori não poder ficar, casar com japones.

– Agente ainda nem começou broto…

– Kuro nunca mais. Disse o senhor Fujitama enfurecido

– Kuro?

– Preto? Falou Kaori

– Kuro é seu cú, meu nome é Kim.

Não houve reação, a Yakuza dos produtos importados entrou nos carros, Kaori foi embora e o Quinzinho da Dona Alice ficou.

– Entra Kim, vamos terminar de jantar, vai esfriar.

Ficou com um nome novo.

 

OBs: Esta é uma história que mau pai me conta, eu precisava contar pra voces, na foto o próprio.Gatão da baixada.

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