Letícia acordou cedo naquele dia, era feriado, não precisava sair da cama pra constatar que haveria nada pra fazer, não conseguiu voltar a dormir, ficou lembrando-se do sonho que havia tido minutos antes de acordar, a história das meias vermelhas, uma história que sua vo lhe contava em todo natal, era sobre uma menina que só andava com meias vermelhas até o joelho na esperança de sua mãe lhe reencontrar, a menina usava meias vermelhas no dia em que se perdeu da mãe, acreditava que mesmo que em uma multidão se a mãe andasse olhando para o chão veria as meias e acharia a sua filha, toda véspera de natal a menina ia para a feira, o mercado e as ruas comerciais afim de alimentar um mínimo de esperança de sua mãe lhe achar em meio a tantas pessoas. Letícia se viu naquela história, mas no seu caso ela era a mãe.
Letícia sempre sonhou com o dia que iria ser mãe, brincava com as bonecas e lhes dava nomes, criou cachorros dentro de casa, cuidou do irmão mais novo com muito zelo, ouviu tudo que os pais haviam lhe orientado.
– Filho custa caro.
– Você ainda nem terminou os estudos.
– Um filho interrompe sua juventude.
– O mundo de hoje não é como antigamente.
Com tanta recomendação Letícia resolveu esperar, queria ter filhos, mas queria tudo do bom e do melhor para eles, queria poder oferecer um mundo justo e menos desigual, decidiu esperar.
O tempo não tem compaixão, 20 anos haviam se passado e Letícia ainda não tinha alguém para preparar o café ou alguém para ralhar sobre jogar bola na sala, Letícia estava só.
Se pudesse teria voltado no tempo e teria experimentado uma vida sem muitas vitórias porém teria um filho do qual pudesse amar incondicionalmente e exigir que não deixasse de usar meias vermelhas para que assim não se perdesse dela.
Ótimo texto!
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