Toca essa bola

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Cadu, nascido no fim da geração TV com início da geração internet, filho do Costa, um apaixonado por futebol. Ambos viram suas humildes vidas modificadas quando souberam que a próxima copa seria no Brasil, a nossa terra amada aonde até o cocô pode virar uma pelota.

O filho, desinteressado, nunca foi muito de ligar para esporte, preferia ouvir música e video game, tudo que não dependesse de outra pessoa para ser realizado. Com quase 22 anos, ainda não havia decidido seu futuro, trabalhava de vez em quando, estudava quando lhe convinha e namorava quando não restava nada mais interessante, extremamente versátil (preguiçoso).

O pai, seu Costa, filho de seu Antônio, cresceu na periferia do Rio, a primeira copa que assistiu foi a de 70 com o Brasil ganhando o tri campeonato, dali em diante nunca mais perdeu uma sequer. Era sempre a mesma história, enfeita a casa, compra tv nova, coleciona o álbum da copa, música, tudo pronto para o maior espetáculo da terra. Tinha uma simpatia, em dia de jogo do Brasil não pode usar sapato, ninguém da casa. Durante a copa de 98, o Brasil perdeu por conta de um conhecido que veio assistir direto do trabalho, deu tudo errado. Em 2002 ganhamos, seu Costa trancou todo mundo em casa, o que foi a gota d’água para Cadu que odiou aquilo tudo, pegou antipatia de futebol.

A casa nunca mais foi a mesma, ninguém se importava com a copa, Costa assistia na sala sozinho, som baixo, nem comemorava, as vezes dormia durante a partida. Mas tudo mudou quando foi anunciada a festa em nossa terra, viu que aquela seria a chance de reconciliar a amizade do filho e trazer a alegria do mundial para dentro do lar.

Comprou ingressos para todos os jogos possíveis, sempre dois, queria ver ao lado do filho.

– O primeiro vai ser Brasil e Croácia.

Disse entusiasmado

– Acho que não vai dar. Respondeu Cadu

Costa saiu cabisbaixo

– Tudo bem.

A mãe, dona Nina interveio, não queria ver o marido assim.

– Meu filho, seu pai só quer companhia.

– Então por que você não vai com ele?

– Por que ele sempre quis ir ao estádio contigo. Na vida as vezes optamos pela felicidade dos outros, pense em tudo que seu pai já fez por ti.

Cadu não dormiu aquela noite. Estava decidido, iria com o pai. No dia do jogo, na mesa do café aparece Cadu usando uniforme azul da seleção, no peito quatro estrelas e atrás escrito Cafu.

– Vamos ou não para esse jogo?

Seu Costa se animou, trocou de roupa e partiram para o Itaquerao, chegaram três horas antes, queria ver tudo.

O jogo começou, bola rolando, o povo em ebulição, clima de festa, mulher bonita pra todo lado. Cadu estava feliz pelo pai, não lembrara de quando havia visto aquele Costa feliz, brincalhão.

– Tá gostando Cadu?

-Tô.

– E porque não tá dizendo nada?

Cadu olhou o percurso da bola até que os croatas trouxeram para nosso lado, a multidão em silêncio.

– OLHA PRA FRENTE! TOCA A BOLA!

E foi gol contra.

Cadu ficou calado o resto do jogo e o Brasil ganhou de 3×1, para seu Costa já era um começo, pelo menos o filho não estava de sapato.

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