Ele acordou cedo no sábado, foi comprar pão, más linguas dizem que foi visto entrando em um carro cheio de mulheres, amigos do peito juram que ele foi abduzido.
O problema não foi sumir mas sim reaparecer, ao meio dia, de uma quarta de cinzas.
– Onde você esteve?
– Você me procurou?
– Sim.
– Onde?
– Nas ruas, na delegacia, no bar do Joel, na padaria e nenhuma pista, aonde você se meteu.
– Agradeça por eu estar vivo primeiro. Eles me soltaram após cancelarem o resgate.
– Que resgate?
– Do dinheiro, mas isso é passado, agora estamos juntos. Me abraçaaa e me beijaaaaa.
– Tá cantando?
– Tô livre, tô feliz, com minha mulher.
Agarrou a mulher e tacou-lhe um beijo na boca como não fazia há anos, puxou ela para o tapete da sala e começou a despi-la, Dorinha o interrompe:
– O que foi isso?
– Foi carnaval.
Pensou em começar o mesmo texto sempre que ele volta de alguma Gandaia. Dizer que ia larga-lo, a mãe estava certa, que ele prefere as da rua do que a do lar, não a ama e todas essas frases de mulher com cabeça esquentada.
Mas deixou pra lá, escolheu sentir-se amada naquele momento, havia um bom tempo que não aproveitavam um momento à dois entre lençóis.
Depois ele ia ter que se explicar.
A verdade é que naquele sábado ele estava disposto a aproveitar o feriadão com a esposa, mas no meio da rua alguém gritou:
– Luizinho, só falta você pra começar, vambora porra!
– Esse ano não
– Então paga o que me deve.
Não teve jeito, a saída foi tocar o repique até o sol raiar. Saiu na bateria da Mocidade de Valparaíso, foi de pirata no galinho de Brasília, deu um pulo no Aparelhinho, Tesourinha e Calango careta. Por fim fechou a terça como musa no Pacotão.
As coisas não mudam, o carnaval renova qualquer energia e qualquer amor.
E esse carnaval foi bom, eu que o diga.
Axé.