Sexta feira. uma há menos para o ano acabar, e começar outro igual ao anterior. Quente, tedioso e cheio de dívidas.
– Tomar uma véi?
Pois é, foi um convite, o pessoal que lavam os carros nos arredores fizeram uma festa surpresa para única mulher no meio daquela macharada que passam o dia a oferecer proteção e limpeza por alguns trocados. Simone tem cinco filhos, cuida de uma área que circula uma média de 50 carros por dia, arrecada pouco mais de uma salário no mês, acorda cedo, chega tarde. Merecia uma festa, com churrasco e heineken, tudo pago pela irmandade da flanela.
– Hoje não, preciso ir direto pra casa.
O telefone tocou seis vezes durante o trajeto, tentei chegar em -20 minutos mas não rolou, nem subi, pedi pra ela descer, fomos direto ao shopping, já eram 21h e sexta.
O espírito da pãodurice prevaleceu na hora de procurar uma vaga, ansiedade com o horário e com a mulher que não parava de culpar o atraso que era parte da vida urbana, avistei um carro saindo e peguei a vaga no mísero estacionamento gratuito da porra de um shopping de quase 30 mil km².
– Você não tem consciência né? Disse a mulher que esperava a vaga
Desci, fingi que não ouvi, entrei correndo no shopping, corri porta adentro da livraria, procurei pelo danado livro anti estresse de colorir. Dá -lhe Augusto Cury para controlar tanta ansiedade e estresse. Mas o dia perdeu o sentido, mesmo comprando a merda do livro de colorir, a frase da mulher no carro não havia saído da minha cabeça.
Paguei o livro, voltei correndo ao estacionamento, pensei onde ela estaria, se havia arranhado meu carro, procurando vaga ainda, chorando, bebendo seu ódio por mim. Não a encontrei há tempo de pedir desculpas nem de discutir os valores sociais e morais da vaga pública. Merda!
Devia ter ficado no estacionamento que estava em festa, parabéns Simone.