Ser ou não ser? Nova classe média.

Thiago_maroca

– E agora?

– Num sei , nunca pensei nisso.

– Temos que melhorar as palavras, segundo o governo somos a nova classe média!

– já aviso logo que não vou comer banana de garfo e faca.

– Vai ser difícil viu! virar  o livro da pobreza na sua vida né Adalberto?

– Oh Cida! Isso não passa de notícia besta pra gente não perceber a roubalheira que acontece todo dia neste país.

– Seja como for, nós podíamos ao menos tentar melhorar alguns costumes nessa casa né?

– Como o quê?

– Como o hábito nefasto que você tem de arremessar a toalha molhada sobre a cama.

– Isso é pra cama ficar geladinha na hora de deitar, quem aguenta esse calor?

– E quando você chega e saí atirando as roupas pela casa inteira, tá achando que aqui é a casa da sua mãe?

– Infelizmente preciso admitir que isso não é um mal costume, é um rito espiritual com intuito de espantar ancestrais malignos que moravam nesta casa, na casa de mamãe era o espiríto de minha vó Bernadete.

Cida não continha a frustração, achou que a notícia ao menos estimularia Adalberto a vestir-se melhor, fazer a barba com mais regularidade e por fim conseguir um emprego decente. Adalberto que não era trouxa, percebeu pela cara da mulher que algo não ia bem, sabia o fim da história, se adiantou:

– Por que não saímos para jantar, assim praticamos os hábitos da nova classe média.

– Claro, vou me arrumar.

Adalberto sabia a dureza que era dormir na sala, ligou para a mãe e garantiu a grana para a noitada, dessa vez iriam fazer diferente, coisa fina, coisa de nova classe média. Decidiram ir ao restaurante mais caro da redondeza.

Entraram, sentaram-se em frente a um quadro com uns cavalos azuis, o garçom colocou o cardápio na mesa, serviu água e perguntou qual entrada.

– Tá de sacanagem? Traz aquela gelada, canela de pedreiro e deixa para abrir na mesa…

– Adalberto…

– Desculpa, um vinho tinto cabernet sauvignon e uma entrada de frios, pasta  e pães a moda do chefe.

– Perfeitamente.

O cardápio era indecifrável, pediram o que mais parecia com frango. No fim era rã, que não era tão ruim assim. De sobremesa banana em calda de mousse de chocolate mas a conta, Cida se adiantou.

– Escuta, que valor é esse?

– Couvert senhora.

– Mas ninguém cantou.

– Pelo silêncio

– E este valor embaixo?

– Serviço do maitre!

– Não pedimos isso.

– Foi o vinho.

– Tá, mas por que deu tudo isso?

– Adicional de serviço da casa.

Adalberto pagou tudo calado, sabia que não valia a pena discutir com uma mulher indignada, dirigiu calado, até que Cida se manifestou.

– Classe média é o caralho. Toca pro bar do Juca que dá tempo de pedir um espetinho.

E tomar uma gelada, pensou Adalberto

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