Isso mesmo, surfar.
Já passava da meia noite quando Ricardo e Samuel pegaram o ônibus para casa. O mp3 ligado no último volume ao som de uma banda qualquer,
o importante é o barulho para não cair no chão e no sono com o busão cheio de trabalhador, acredite, meia noite o trem fantasma vai lotado.
– Oh Little Richard , acorda aí cara!
– Pô Samuca, eu to pregado.
– Ah qual é? Anima aí!
– Tá bom, que é?
– Bora ver quem consegue surfar mais tempo?
Surfar no ônibus: o mesmo que ficar no corredor sem se apoiar. Vence quem fica mais
tempo sem segurar.
– Eu vou começar. Disse Samuel
– Beleza, vai na fé.
Samuca esquece que tem 1 metro e 90, Pesa 100 kilos e é extremamente desajeitado, o que favorece minha vitória
e precede uma briga entre os usuários, para minha sorte (dele também) o ônibus virou e ele teve que segurar-se.
– Sua vez.
Já que não tinha jeito, fui. Fiquei um bom tempo. Até relaxei, mexi a cintura lembrando a saudosa Carla Perez.
– Pronto, ganhei.
– Melhor de três, com dancinha.
Sabia que não podia acabar tão rápido. Samuca começou de novo a gerar um clima de desconforto em mim,
para piorar começou a dançar hip hop fazendo scratch com a boca, Aproveitou do silêncio no baú e se soltou,
segurou uma perna e jogou pra trás, bem na cara de um passageiro sentado.
Imagine voce sendo agredido por um mizuno falsificado, quase sem sola, enquanto cochila no retorno para casa.
Pois é, a vida não tem check point, morar na quebrada não permite ter o dobro de life, uma vez que todo mundo sobrevive.
Samuca desafiou a gravidade e a nossa integridade física mas que para nosso alívio não fez o passageiro acordar.
– Agora eu ganhei.
– E eu quase perdi os dentes seu maluco.
– Posso dançar por mais 30 segundos que ver?
De alguma forma Samuca desafiava Deus e o Diabo ao mesmo tempo.
Chegamos em casa são e salvos.