Olhar desconfiado mas com sorriso na cara, de copo na mão saudava à todos e pedia um brinde à pessoa mais especial na festa.
– Você
– Mas o aniversário não é meu.
– Então à nossa amizade.
– Que seja, eu sou a Lu.
– Marquinhos.
Pronto, agora tinha um álibi, se questionassem, diria que veio com Lu.
– A mãe do Ricardinho?
– A que tem gêmeos?
– A quem não pode ter filhos?
Marquinhos estava ferrado, entrou sem notar que era uma festa de criança, a mesa e os brinquedos estavam nos fundos, assim as mães podiam conversar a vontade na sala. Com tantos anos sendo penetra como pode errar a festa, sempre tem churrasco com cerveja no domingo, que vacilo.
– Vou pegar refrigerante, quem aceita?
Na cozinha descobriu o baú do tesouro, cervejas e uns destilados, colocou uma dose de tequila na sprite da mulherada, bateu a cerveja com sorvete no liquidificador. Serviu aos distintos grupos, milk shake pra garotada e porrinha para a mamães.
Em uma hora, a festa havia mudado de clima, o funk ensurdecia a vizinhança, a pirralhada dormindo e as mães com menos roupas dançavam a velocidade cinco do créu. Marquinhos se viu encurralado, em uma hora os maridos iriam começar a virem buscar filhos e esposa, era preciso baixar o fogo das mulheres, trocou de música, de funk mudou para Whitney Hilston com tema do guarda costa, abaixou a cabeça e começou a chorar.
– Eu estou frito!
As mulheres sentaram em sua volta e iniciaram aquilo que toda mãe faz de melhor: Acolher. Marquinhos contou uma história triste que começava com o abandono dos pais até a traição da esposa amada com o melhor amigo. Todas choravam junto com Marquinhos, exceto Rita que estava bêbada mas inquieta.
– Seu broxa!
Sexo não ia rolar, a bebida tinha acabado, a saída era comover pra arrancar uma grana das madames e começar a festa em outro canto. Contou a famosa historia do filho doente, do irmão preso, da irmã doida e do pai que ele nunca conheceu, foi um choro só, Rita continuava no mesmo discurso.
– BROXAAAAAAAA!
Disse que tinha vergonha mas estava morando de favor na casa de um amigo e não suportava mais, tanta humilhação, saiu e hoje não teria onde dormir, negou todos os convites de acolhida pois sabia que corno é uma raça que mata. Deu o golpe triunfal.
– Eu vou voltar para São Paulo, visitar uns amigos e recomeçar a vida… Com meu cachorro.
– E o filho?
– Está morando com a mãe, não posso visita-lo. Não queria pedir mas não tenho nem o da lotação para a rodoviária.
– Nos vamos ajudar, meninas mãos a carteira, esse homem precisa de nós.
Lucrou 1.600 naquele dia, ouviu uma buzina, sabia que era a deixa para não arrumar encrenca, pegou o dinheiro, saiu de fininho, esbarrou com o primeiro marido que havia chegado.
– Olá boa tarde, sou o mágico Luan, as crianças adoraram o show.
Lá dentro, Rita, ainda bêbada:
– Volta aqui seu BROXAAAAAA!
Kkkk muito engraçada sua crônica. Nos primeiros parágrafos me lembrei de um pagode de Zeca Pagodinho “Penetra”.
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Sim, amo essa música, um pouco de inspiração. Obrigado.
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